Enfrentamento do golpe exige coordenação nacional, como na campanha diretas já, diz jornalista

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O Brasil vive um golpe novo, em dois turnos, que só se consolidará se vencer no julgamento do mérito do impeachment, no Senado. Até lá, a sociedade que defende a democracia precisa realizar atos que coloquem o governo ilegítimo em questão e para isso é preciso criar uma coordenação nacional, como aconteceu na campanha das diretas já, em 1984.

Esta sugestão foi feita pelo jornalista Paulo Moreira Leite neste sábado 21/5 durante debate sobre blogueiros e conjuntura política, no 5º Encontro Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitais, em Belo Horizonte. Iniciado ontem, com a presença da presidenta afastada Dilma Rousseff, o encontro é uma realização do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barãos e Itararé, em parceria com o Sindicato dos Jornalistas, e reúne 430 blogueiros, blogueiras e ativistas digitais de 23 estados.

Diretor em Brasília do Brasil 247 e apresentador do programa de entrevistas “Espaço Público”, na TV Brasil, Paulo Moreira Leite foi diretor de redação da revista Época e redator-chefe da revista Veja, entre outros postos na grande imprensa. Em 2013 publicou o livro “A outra história do mensalão – As contradições de um julgamento político” e em 2015 “A outra história da Lava-Jato”, ambos pela Geração Editorial.

“Estamos vivendo uma situação política nova ao enfrentar o golpe e a primeira verdade é que ele não é surpresa para ninguém. Muitos alertavam para isso há muito tempo e eu mesmo, em 2013, antes dos protestos, escrevi que, se a presidenta Dilma fosse vitoriosa, eles iam partir para o golpe. No entanto, não fomos capazes de nos preparar nem de dar resposta a ele, somente nas últimas semanas é que fomos para as ruas, os movimentos sociais e uma parte da sociedade”, disse Moreira Leite. “Apesar disso, eu acredito que o golpe pode ser derrotado e que a presidenta Dilma pode voltar.”

Ele disse que a vitória da democracia pode ser construída, porque a resistência começou antes do golpe, continuou e está aumentando. “A manifestação de ontem em Belo Horizonte foi um marco”, disse, referindo-se aos milhares de manifestantes que foram às ruas na tarde e noite de sexta-feira 20/5 para receber a presidenta afastada e lhe manifestar apoio. “Temos uma presidenta que diz que vai resistir”, destacou.

Ampliação da cidadania

Moreira Leite disse que o golpe ignora o que foram os últimos treze anos no Brasil. “A participação popular cresceu e os direitos foram ampliados. A população mais pobre levantou a cabeça, houve ampliação da cidadania”, analisou. Ele acrescentou que os golpistas querem executar um programa de reformas que foi derrotado em quatro eleições, um programa que não têm coragem de apresentar aos eleitores. “Eles têm dois anos e meio para destruir treze anos de conquistas”, disse.

Este golpe tem novidades em relação ao golpe de 64 e uma das novidades são os blogueiros e ativistas digitais, observou Moreira Leite. “Os blogueiros são, como se dizia no meu tempo, a vanguarda da sociedade. Somos o canal por onde passam as aspirações legítimas da sociedade, as aspirações que foram sufocadas e distorcidas”, definiu.

O jornalista e escritor definiu a conjuntura brasileira como um “momento total”, um “momento a favor”, no qual já se perdeu a conta dos atos de resistência ao golpe. “Nenhum governo ilegítimo pode conviver com protestos diários. Por isso temos uma responsabilidade muito grande. Se a gente faz a coisa certa, ela se multiplica”, disse. “Alguma coisa vai acontecer. É hora de se estimular uma coordenação nacional, como aconteceu na campanha das diretas já”, sugeriu.

“Estamos vivendo um golpe em dois turnos, que só se consolidará se vencer no julgamento do mérito do impeachment, no Senado. Precisamos preparar atos que coloquem o governo em questão”, ressaltou. “O edifício que eles estão tentando construir está rachando”, finalizou.

(Foto: Eder Bronson / Barão de Itararé.)

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