A tradição democrática do Sindicato, reafirmada mais uma vez neste momento de turbulência na vida brasileira e no jornalismo, foi a tônica da homenagem feita pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais aos 70 anos do Sindicato dos Jornalistas. Requerida pelo deputado Rogério Correia (PT), a sessão especial da Assembleia lotou o Plenário Juscelino Kubitschek na noite desta segunda 21/9, com presenças de jornalistas e autoridades. Quatro decanos do jornalismo mineiro também foram homenageados: José Mendonça, Dídimo Paiva, José Maria Rabêlo e Guy de Almeida.
“Este é um momento perfeito para que analisemos nossa responsabilidade individual e coletiva tanto na vida de Minas, quanto no esforço nacional de construção de uma sociedade livre, justa e democrática”, disse o presidente do Sindicato, Kerison Lopes, ao discursar na solenidade. Citando fatos históricos, ele lembrou que o Sindicato foi sempre um exemplo, para o Brasil, de resistência ao autoritarismo. “Estamos atravessando, mais uma vez, um período de turbulência política em nosso país. E, em momentos assim, cabe aos jornalistas e ao seu Sindicato a responsabilidade de garantir que todos os mineiros compreendam perfeitamente aquilo que está em jogo, neste momento”, disse.
“A maioria exerceu, com o voto livre, universal e secreto, o direito de escolher ideias, dirigentes e projetos que conduzam o Brasil à construção de uma sociedade mais justa e mais humana e a um futuro que represente a definitiva consolidação da democracia em nosso país”, disse Kerison. “Não temos o direito de silenciar diante de quaisquer ameaças à democracia e à liberdade de escolha dos brasileiros. Nosso primeiro e maior compromisso é com a verdade”, enfatizou.
Kerison destacou também algumas bandeiras centrais da atuação do Sindicato: a democratização da comunicação, a obrigatoriedade de diploma em curso superior de jornalismo para exercício da profissão e melhores salários e condições de trabalho para os jornalistas. “A responsabilidade do jornalista é cada vez mais necessária e nossa profissão tem que ser ainda mais valorizada. Por isso, o Sindicato vive na luta incessante contra a precarização das condições de trabalho e a onda de demissões que assola redações de todo o país.”
O deputado Rogério Correia informou que a homenagem era de toda a Assembleia, já que o requerimento de realização da sessão foi assinado por todos os deputados e deputadas, que, em nome do povo reconhecem a importância do Sindicato e da Casa do Jornalista. Ele lembrou que sua trajetória política está intimamente ligada ao Sindicato, desde a histórica greve dos professores estaduais, em 1979. “Foi o Sindicato que abrigou o comando de greve, era o Sindicato que nos emprestava o moderno mimeógrafo a tinta no qual rodávamos o boletim da greve que iria para todo o interior do estado”, recordou. “Isto mostra o espírito democrático do Sindicato dos Jornalistas naquele momento muito importante, do fim da ditadura e renascimento da democracia no Brasil.”
Emoção
Os instantes mais emocionantes da sessão foram as homenagens prestadas a quatro veteranos jornalistas, cujas vidas se confundem com a história do Sindicato e do jornalismo mineiro. Eles foram calorosamente aplaudidos. O ex-presidente e fundador José Mendonça expressou, da tribuna, sua alegria. “Eu só tenho uma coisa a dizer: Deus lhes pague pela alegria que estão me proporcionando e pela saudade que estão despertando em meu coração dos tempos idos e vividos”, disse o jornalista e professor de várias gerações de profissionais, que está prestes a completar 98 anos.
Dídimo Paiva, outro ex-presidente homenageado, ressaltou que o diploma em curso superior é fundamental para o jornalista. Ele lembrou que o Sindicato nunca aceitou a ditadura, nem quando a censura era feita diretamente nas redações, e enfatizou: “Ninguém luta pela democracia como os jornalistas”.
Guy de Almeida lamentou a perda de credibilidade pela qual passa a imprensa, elogiou a atuação do Sindicato e transferiu a homenagem recebida para todos os jornalistas. “É uma alegria muito grande estar participando desta reunião de jornalistas, categoria que sempre soube enfrentar situações especiais com muita coragem”, disse.
José Maria Rabêlo disse que aquele era um dia importante. “O Sindicato é um símbolo da luta democrática”, observou, acrescentando elogios aos colegas homenageados. “José Mendonça tem quase um século de coerência, Dídimo conduziu a luta contra a ditadura, Guy tem uma carreira estadual, nacional e até internacional, é um exemplo para seus milhares de alunos”, disse. Completou lembrando o episódio de depredação do semanário Binônio por forças militares, em 1961, quando, em defesa da liberdade de expressão, entrou em luta corporal com um general.
Presenças
A sessão foi presidida pelo deputado Ricardo Faria (PCdoB), que falou em nome do presidente da Assembleia, Adalclever Lopes (PMDB). Ele lembrou que a Assembleia realiza anualmente uma semana de debate sobre a democratização da comunicação, que acontece em abril, em deferência ao dia nacional do jornalista. Disse que, para a Assembleia, é uma honra poder comemorar os 70 anos do Sindicato, entidade que sempre defendeu a democracia. “Não é possível mais aceitar retrocessos na ordem democrática”, alertou.
Fizeram parte da mesa os deputados federais Wadson Ribeiro e Jô Morais (PCdoB), os secretários de estado de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, da Cultura, Angelo Oswaldo, e da Comunicação, Marcus Gimenez; o prefeito de Contagem, Carlim Moura; o vereador Adriano Ventura, representando a Câmara Municipal de Belo Horizonte; o presidente da Belotur, Mauro Werkema; a presidenta da CUT-MG, Beatriz Cerqueira, o presidente da CTB Minas, Marcelino da Rocha, e o diretor da Fenaj e ex-presidente do Sindicato Aloísio Morais, além do deputado Rogério Correia e do presidente Kerison Lopes.
Também estiveram presentes os ex-presidentes do Sindicato Manoel Marcos Guimarães, Luiz Carlos Bernardes, Américo Antunes, Dinorah do Carmo, Aloísio Lopes, Elian Guimarães e Eneida Ferreira, além de diretores da atual gestão e diversos ex-diretores. A sessão foi enriquecida pela apresentação do Quinteto de Cordas Sinfônico Mineiro, que tocou o hino nacional e números musicais.
(Foto: Da esquerda para a direita: Ricardo Faria, José Mendonça, Dídimo Paiva, Kerison Lopes, José Maria Rabêlo, Guy de Almeida, Rogério Correia. Crédito da foto: Samuel Gê/Vilarejo.)