Marques de Melo recebe pedido de desculpas 45 anos depois da perseguição

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O presidente da Comissão Nacional de Anistia, Paulo Abrahão, formalizou pedido de desculpas do Estado Brasileiro ao professor José Marques de Melo, o primeiro jornalista a receber o título de Doutor em Jornalismo no Brasil. Co-fundador da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e da Rede Mundial de Cátedras Unesco de Comunicação (Orbicom), Marques de Melo exerce, há 20 anos, o cargo de diretor-titular da Cátedra Unesco na Universidade Metodista de São Paulo.

A decisão da comissão foi formalizada no dia 13 de julho por meio do seguinte parecer: “Declaro formalmente o Sr José Marques de Melo anistiado político brasileiro, por decisão unânime desta Comissão de Anistia. Neste momento, o Estado Brasileiro formaliza o pedido de desculpas pelas perseguições, pela prisão, pelo tempo em que esteve afastado do seu emprego e por todos os reflexos causados também à sua família.”

O presidente da Comissão Nacional de Anistia informou que os autos do processo de anistia do professor Marques Melo serão enviados para a Comissão da Verdade na USP, com a finalidade de “contribuir para o desenvolvimento dos trabalhos e acesso ao direito à memória e à verdade da mesma instituição”.

Trajetória

José Marques de Melo iniciou sua trajetória intelectual como jornalista, em 1959, integrando as equipes dos jornais Gazeta de Alagoas e Jornal de Alagoas (Maceió), atuando depois no Jornal do Commércio e Última Hora-Nordeste (Recife), A Gazeta e O São Paulo (São Paulo) e Revista de Cultura Vozes (Petrópolis-RJ). Colaborou ainda como articulista dos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Correio Braziliense (Brasília), Zero Hora (Porto Alegre), Diário do Grande ABC (São Paulo), Diário de Pernambuco (Recife) e A Tarde (Salvador).

No começo dos anos 1960, participou do movimento estudantil na cidade de Recife. Fez parte da delegação pernambucana que participou do Congresso da UNE no Hotel Quitandinha (Petrópolis). Integrou a equipe de Miguel Arraes nas áreas de educação e cultura. Preso e processado durante o golpe militar, viu-se na contingência de migrar para São Paulo, contratado para lecionar na Faculdade de Jornalismo mantida pela Fundação Cásper Líbero e prestando concurso na Universidade de São Paulo para integrar o corpo docente fundador da Escola de Comunicações Culturais.

Em ambas as instituições, enfrentou resistências e sofreu perseguições, encabeçando a lista dos professores que o general Ednardo D’Avila, comandante do II Exército, rotulou como “subversivos”, determinando seu afastamento do sistema universitário. Por se tratar de documento sigiloso, os atos dele decorrentes permaneceram inacessíveis (alguns incinerados), na tentativa de assegurar a incolumidade dos funcionários que integravam o “terceiro estágio”, atuando como “dedos-duros” nas “assessorias de segurança e informação” dos reitores que abdicaram das prerrogativas da autonomia universitária, nos estertores do regime militar (particularmente no período 1974-1979), quando cresciam em todo o país os clamores pela Anistia.

Fortuna crítica

Antecipando-se à decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, a Intercom decidiu homenagear o seu fundador publicando a coleção Fortuna Crítica de José Marques de Melo, reunindo textos exegéticos da sua obra acadêmica, escritos por mais de uma centena de colegas e discípulos, em quatro volumes: 1 – Jornalismo e Midiologia, 2 – Teoria e Pesquisa da Comunicação, 3 – Comunicação, Universidade e Sociedade, 4 – Liderança e Vanguardismo. A coleção está sendo doada pela Intercom a bibliotecas e centros de pesquisa em comunicação de todo o país.

Foto: Intercom

(Publicado no portal da Intercom e no Observatório da Imprensa)

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